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As mães de classe média admitem a necessidade absoluta do trabalho desempenhado pelas empregadas domésticas para se inserirem no mercado profissional. Edna Campos, gerente de projetos de uma empresa multinacional, afirma que as profissionais do lar, como são chamadas por algumas pessoas, são essenciais: “Como trabalho fora, não consigo viver sem elas”. Joana Francisca dos Santos, 38 anos, mora em Pituaçu, trabalha a semana toda como babá, além de ajudar a
doméstica da residência onde trabalha em alguns afazeres domésticos. Como dorme no trabalho, reserva o único tempo livre, os sábados à tarde e os domingos, para cuidar de sua própria casa e visitar a filha Jocilene.
Joana cuida de Sofia, cinco anos, e Guilherme, dois anos. Ela afirma que o cargo de “segunda mãe” exige grande responsabilidade. “Eu já criei muitas crianças, mas filhos mesmo, eu tenho três. O mais novo é Luís, que tem 10 anos e mora no Imbuí, tem Alexandra que se formou em medicina e Cris que vai prestar vestibular pra direito.” Esses três “filhos” aos quais ela se refere são crianças de quem ela cuidou e cujas famílias ainda visita. Para Joana, o mais importante é quando a criança reconhece o seu empenho. “Tem muita gente que não tá nem aí, não dá valor, trata mal”, relata.
“Mantenho uma relação de amor maternal mesmo. Me dou muito bem com ela desde sempre. Quando criança, dormi várias vezes na casa dela, então tenho todo um envolvimento na sua vida”, afirma Gabriel Nery , 18 anos, que reconhece a significação do tempo em que foi educado por Deuzuirta, babá da família há duas gerações. Ele não aprendeu com ela apenas o humor fino para pregar susto e varrer uma casa (quando criança ganhou uma mini vassoura porque não largava a da babá), diz que Deuzuirta foi fundamental para a formação de seu caráter.
A realidade da criança pobre que não conta com a presença da mãe porque esta trabalha como empregada doméstica para sustentá-la versus a criança de classe média que possui duas mães, a biológica e a babá, já foi abordada em peças e filmes. Recentemente, o jornalista Caco Barcelos tratou do assunto no espetáculo teatral Osama, o homem-bomba do Rio, e o cineasta Walter Salles o fez em um dos episódios que compõem o filme Paris, te amo (Paris, je t’aime, 2006).
O outro lado
O fato é que a realidade não é sempre tão encantadora. Ana Angélica de Jesus Brandão, 47 anos, nunca ouviu nenhum tipo de queixa por parte das patroas com relação à sua função de babá, mas não encontrou compreensão quando a filha esteve doente. “No quarto dia que faltei o trabalho, fui demitida por telefone. Eu estava com minha filha de dois anos no posto médico, minha patroa disse que ela tinha arranjado uma que dormisse no trabalho”. Apesar de por vezes não encontrar apoio dos patrões, ela sempre dispôs de carteira assinada e, na época da gravidez, recebeu a licença maternidade.
Luciene Silva, 36 anos, se considera uma “operária padrão” e se diz perfeccionista no cuidado da casa e dos três filhos. Por isso, dedica as terças e quintas-feiras para administrar o próprio lar. O filho mais velho, Rogério, 15 anos , cursa, há três anos, a 5ª série e quer seguir carreira no futebol. Luciene não gosta, mas aceita: “Se for a vontade dele...”. Já Ramon e Renan, 10 anos, gêmeos, cursam a 2ª e a 3ª séries, querem ser bombeiro e motorista de ônibus, respectivamente. Luciene, convicta, explica que a profissão de doméstica não recebe o devido respeito e o salário irrisório não compensa o sofrimento com as ameaças e o desrespeito. Porém, como é separada e chefe de família, precisa do dinheiro. “A gente que tem filho tem que agüentar mesmo”, indica.
Marineuza Machado, 26 anos, trabalhou até o último dia antes de ter Leandro, 5 anos. Seus patrões a levaram na maternidade, acomodaram-na no resguardo na própria casa e tratam a criança como se fosse neto, ajudam a criá-la.”Ela é minha segunda mãe”, diz, referindo-se à patroa. Apesar da ajuda, Marineuza afirma que é complicado cuidar da criança e trabalhar. “Tenho muito trabalho, Léo reclama da minha falta. ‘Mamãe precisa trabalhar’, eu falo. Se eu soubesse que ter filho dava tanto trabalho eu nunca ia querer ter”, desabafa.
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